2009-12-23

Queda do Muro: toda a crise é também uma oportunidade

O início do século XXI é marcado pela inauguração de um próspero período de mudanças Completaram-se 20 anos da queda do muro de Berlim. Diante disso o que é possível ver na mídia internacional é uma suposta onda de comemorações que tomou conta da Alemanha e de todo o mundo. Segundo os grandes veículos de comunicação internacional é uma celebração da paz e da liberdade. Uma importante vitória contra a “ditadura comunista”.

Em 09 de novembro de 1989, caía o muro de Berlim. Esta seria uma marca da derrota do projeto socialista implementado no século XX. Isso possibilitou uma ofensiva do capitalismo internacional transformando a geopolítica, que se pautava pela bipolaridade, em unipolar sob hegemonia dos EUA. Ainda mais, essa ofensiva se deu também no campo das idéias onde se desconstruiu toda e qualquer alternativa coletiva para superar os problemas da Humanidade. Assim a saída para os problemas do mundo se daria pela ação individual de cada um, com erro de português proposital, e não mais pelas organizações coletivas. Ao mesmo tempo inaugurou-se, no campo das idéias, uma ofensiva contra a participação política. Dessa forma o progresso da sociedade não se daria mais pela luta pelo poder, mas, sim, pelas lutas específicas/pontuais, uma vez que não haveria mais alternativa ao capitalismo e a luta de classes não existiria mais. Entretanto, o pensamento pós-moderno serviu, na prática, para escamotear a afirmação do capitalismo novamente como projeto hegemônico no mundo.

Ao mesmo tempo essa ofensiva fortaleceu o avanço do projeto neoliberal. Assim, os anos 90 foram marcados pela destruição dos Estados nacionais e das máquinas estatais. Foi nesse período que ganhou força aquela visão contrária a tudo o que é público, do Estado como um elefante velho, portanto lento e pesado. Assim, em completa contradição com o mundo moderno, dinâmico que se tentava vender. Nesse sentido era preciso se livrar desse entulho e a onda de privatizações varreu boa parte dos países, em especial os ditos subdesenvolvidos. Ainda, esse processo expôs os países pobres, especialmente da América Latina e da África, a condição de extrema dependência e submissão diante das grandes potências. Isso acabou por destruir a economia, a identidade cultural e o orgulho nacional desses povos e nações. No Brasil a idéia vendida pela elite era que tudo aquilo que era nacional automaticamente era ruim. Portanto, construiu-se a idéia de um Brasil que podia ter sido e não foi, a eterna nação do futuro que nunca chegava.

Entretanto essas idéias estão ruindo. O início do século XXI é marcado pela inauguração de um próspero período de mudanças. Dessa forma os governos progressistas eleitos em toda América Latina provocaram uma onda mudancista em todo o continente. Aliado a isso veio a grande crise do sistema Capitalista mundial, em especial de seu modelo neoliberal. Esses dois processos colocaram em xeque a capacidade do Capitalismo em atender as demandas da Humanidade. Assim reacendeu o debate em torno da participação do Estado na economia e trouxe a cena do debate novamente a perspectiva socialista. Ainda, a história parece perseguir a todos. Os fatos históricos como a comemoração dos 50 anos da Revolução Cubana, dos 60 da Chinesa, dos 80 anos da crise de 29 entre outras datas históricas fortalecem essas idéias de um mundo mais justo, mais humano e colocam o socialismo como referencia para isso. Portanto não é de graça a intensa comemoração promovida pela grande mídia nacional e internacional dos 20 anos da queda do Muro de Berlim. Esta é, senão uma tentativa de desconstruir o imaginário socialista. Assim, tentam apresentar como estão felizes ou como progrediram as pessoas e países que não vivem mais com o Socialismo. O que eles escondem é a verdadeira opinião pública que contrapõe as idéias vendidas por essa mídia, conforme dados da recente pesquisa divulgada pela BBC e publicados nos portal Vermelho:

“Só 11% dos entrevistados em 27 países considera que a economia capitalista funciona corretamente e 51% acha necessária mais regulação e reformas para a corrigir. (...) Uma maioria dos inquiridos em 17 dos 27 países defende uma maior regulação do mundo financeiro, sendo os brasileiros os mais favoráveis (87%), à frente dos chilenos (84%), franceses (76%), espanhóis (73%) e chineses (71%). (...) Dos entrevistados brasileiros (835 pessoas nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). A sondagem revelou que 64% defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do país e 87% defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios locais, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.”

Por fim, a queda do Muro de Berlim é o símbolo de um período marcado pela crise do modelo socialista. Entretanto deve ser visto, também, como o período que possibilitou um profundo processo de reflexão acerca dos erros e acertos da experiência socialista. Foi esse período que provocou o questionamento de modelos e dogmas para analisar de maneira crítica os ensinamentos deixados por esses que foram os primeiros passos do Socialismo. É como dizem os chineses toda crise de ser vista também como uma oportunidade.

Por:
Mateus Fiorentini "Xuxa", presidente Estadual da UJS-RS

Fonte: www.ujs.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário